quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

PREVENÇÃO DA AIDS É VETADA POR 85,5 % DAS EMPRESAS BRASILEIRAS

Apesar de lei trabalhista exigir campanhas contra o HIV nomercado corporativo
Aqui só trabalhamevangélicos”; “Todos os funcionários são casados”; “Temos apenas um homossexualno quadro de funcionários”, foram algumas das justificativas usadas por 85,5%das empresas que vetam programas de prevenção à AIDS no Brasil, conforme mostrou pesquisa inédita feitapelo governo federal.Os dados foram colhidos pelo Ministério da Saúde com 2.440empresas de pequeno e médio porte de todas as regiões do País. As informaçõesainda são parciais e foram divulgadas durante o Congresso Brasileiro dePrevenção as DSTs e Aids, realizado em São Paulo na última semana.
O preconceito e falta de informação no ambientecoorporativo acenderam o alerta vermelho para os especialistas, já que a aidsnão tem cura e mata 33 essoas por dia no País.
O contágio não tem nenhuma relação com religião, orientaçãosexual ou estado civil. Para ser vulnerável, reforçam as pesquisas, basta terrelações sexuais sem camisinha. Na faixa-etária maior de 60 anos, por exemplo, 80% das mulheres infectadas são casadas. Entre as pessoas de 18 e 45 anos, 56% sãoheterossexuais.“O cenário que encontramos nas empresas está martelando em nossacabeça. Ainda precisamos aprofundar os estudos, mas já identificamos que asestratégias de prevenção ao vírus HIV estão distante dos trabalhadores”,lamentou Neusa Burbarelli, presidenta do Conselho Empresarial Nacional para aPrevenção ao HIV/Aids. A entidade reúne 17 empresas de variados setores doBrasil e atua em parceria com o governo federal para levar a prevenção dadoença ao ambiente de trabalho.sso porque 90% dos soropositivos do Brasil estãoem idade produtiva, entre 18 e 45 anos, o que fez a Organização Internacionaldo Trabalho (OIT) lançar diretrizes para que os empregadores adotassem medidaspreventivas. As normas fazem parte, inclusive, das leis trabalhistas. Oestatuto que exige a implantação da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes(Cisa) pelas empresas prevê que, ao menos uma vez ao ano, sejam realizadascampanhas internasde prevenção à aids.
Resistência
Os dados da nova pesquisa mostram realidade diferente daprevistaem lei. Apesar de 68% dos entrevistados terem afirmado considerar queas doenças sexualmente transmissíveis e a aids devem ser discutidas no local detrabalho, apenas 14,5% realizam ações e programas sobre essas doenças.
Os motivos para a resistência das empresas ainda nãoforam completamente elucidados pelo Programa Nacional de DST/Aids e HepatitesVirais. Além das frases preconceituosas citadas por parte dos empresários,Lucimar Marques, coordenadora da ONG Anima – que tem como objetivo organizarprogramas preventivos de aids para ambientes coorporativos – traz outrosmotivos para o assunto ficar de fora do âmbito do emprego.
“Muitas empresas não estão dispostas e nem queremassociar seus nomes à causa da aids. Há resistência também. Ainda parece tabuelas aceitarem disponibilizar camisinhas aos trabalhadores em espaços sociais,como os banheiros por exemplo”, pontua Lucimar.
“Os empresários, em geral, não aceitam destinar uma horapor ano para falar do assunto, pois acreditam que tal medida compromete aprodução”, completa ela.
Na avaliação dodiretor do Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais, Ruy Burgos, talcomportamento por parte das empresas compromete o controle da epidemia.
“Primeiro porque osavanços da medicina aumentaram a sobrevivência dos soropositivos. Se eles nãotiverem acolhimento no ambiente de trabalho, acabam impedidos de seremprodutivos nos anos de vida que conquistaram”, afirma.
“Um outro fator éque hoje 250 mil pessoas no País são portadoras do vírus HIV e não sabem disso.Se as empresas abrissem suas portas para realizar os testes de aids, porexemplo, poderíamos mudar deste quadro e controlar a transmissão e o surgimentode novos casos.”
A experiência deJoddal Simon mostra que é possível mesmo aproximar os trabalhadores doscuidados preventivos e também do tratamento quando as corporações abrem asportas para as estratégias antiaids.
“Há 16 anos casei com uma mulher e desde sempre sabiaque ela portadora do vírus HIV. Na época, eu trabalhava como barman e sofriajunto com ela o preconceito para conseguir emprego e falar sobre a saúde com ospatrões”, lembra.
Simon então teve uma ideia. Montou a ONG Gapp+ no Pará quetrabalha com o seguinte propósito: convida trabalhadores que se assumemsoropositivos ou convivem de alguma forma com o HIV (como era o caso dele) paradarem palestras em empresas do mesmo ramo de suas carreiras.
“As palestras são rápidas, de 15 minutos, focadas naprevenção, no acolhimento dos soropositivos e de uma forma direcionada paraaquela área. Eu mesmo já fiz 1.200 palestras em bares, restaurantes e empresasenormes de todo Brasil.”
Outra iniciativa da Gapp+ foi levar os testes detectoresde HIV para indústrias, mineradoras, empresas do ramo de transporte, entreoutras.
“Na Serra Pelada tivemos uma experiência bem importante.Dos 71 trabalhadores que foram fazer o teste, 59 tiveram o resultado positivo.Puderam então começar o tratamento que pode salvar a vida deles. Quem demorapara procurar ajuda, tem as chances diminuídas.”
ARTIGO : Secretaria Nacional Pastoral DST/AIDS

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