O
Departamento de DST, Aids e Hepatites Virias do Ministério da Saúde
publicou em seu site nesta sexta-feira, 22 de março, uma entrevista com o
coordenador do Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT),
Draurio Barreira.
O
especialista destaca os riscos da coinfecção HIV/tuberculose; e aponta
como maiores desafios do País na área a ampliação do diagnóstico
oportuno do HIV por meio da testagem rápida em pessoas com tuberculose e
a consolidação do SAE como referência para o acompanhamento de
coinfectados.
Leia a seguir a entrevista na íntegra:
A tuberculose é uma doença antiga. Por que ainda hoje as pessoas se infectam e morrem desse mal? O
Brasil possui muitas cidades com bolsões de pobreza e grandes
aglomerados populacionais, o que facilita a propagação da tuberculose. A
doença se transmite pelo ar, no momento da fala, tosse ou do espirro de
alguém que esteja com a forma pulmonar do agravo. Quando há uma pessoa infectada,
todos aqueles que convivem com ela, em sua moradia ou local de
trabalho, devem ser examinados para que a infecção seja descartada ou
tratada, quando necessário. Tal fato se deve à facilidade de propagação
da microbactéria – agente responsável pela doença. Contudo, nem sempre
os serviços de saúde conseguem identificar e tratar todas essas pessoas.
Além disso, há grupos populacionais especiais que possuem mais
facilidade para contrair a tuberculose – como pessoas que vivem com o
HIV, população em situação de rua, população privada de liberdade,
indígenas. Esses segmentos necessitam de estratégias específicas para
diagnóstico, tratamento, condução dos casos e exame. As vulnerabilidades
dessas populações, somadas ao diagnóstico e ao tratamento tardio,
favorecem a ocorrência de óbitos por tuberculose.
A tuberculose é a principal causa de morte entre pessoas que vivem com HIV/aids. Por quê? A
infecção pelo HIV leva ao estado de imunodepressão – quando ocorre
baixa das células de defesa do organismo, fato que aumenta a chance de
que a pessoa infectada contraia tuberculose, assim como outras infecções
oportunistas.
Como é feito o tratamento para a tuberculose?O
tratamento da tuberculose é oferecido gratuitamente pelo SUS e prevê
quatro antibióticos: rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol,
combinados em um único comprimido. Essa medicação é tomada diariamente e
o tratamento dura seis meses. Porém, em algumas situações especiais,
como no caso de alergias ou interações medicamentosas importantes, o
tratamento será individualizado e a duração poderá ser estendida. O
problema maior é quando as pessoas percebem que estão melhorando e
interrompem o tratamento por acharem que estão curadas.E quais são as consequências da interrupção do tratamento? A
interrupção do tratamento pode levar a várias consequências graves,
como, por exemplo, o risco de as bactérias se tornarem resistentes aos
antibióticos, gerando assim o que chamamos de tuberculose resistente;
há, ainda, o risco de que essa forma mais severa de tuberculose infecte
as pessoas que convivem com esse paciente que não continuou seu
tratamento. Além disso, o não tratamento correto e oportuno pode levar
as pessoas infectadas à morte, especialmente as que estejam com
imunodepressão, como as que vivem com HIV/aids. Existe algum procedimento diferenciado para quem tem HIV/aids?Sim.
O Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) trabalha com duas
estratégias específicas direcionadas a essa população. Uma delas é a
recomendação de se fazer o diagnóstico do HIV por meio do teste rápido
anti-HIV a todas as pessoas com tuberculose. Isso possibilita a quem se
descobre soropositivo o diagnóstico oportuno e o início precoce do
tratamento da coinfecção. Outra ação prioritária é o diagnóstico e as
ações de prevenção da tuberculose oferecidas às pessoas que vivem com
HIV, com a finalidade de se investigar a tuberculose e indicar o
tratamento profilático, quando necessário.
O que está sendo feito no SUS para diminuir a coinfecção TB-HIV? Para o controle da coinfecção TB-HIV, o PNCT desenvolve várias estratégias, como as seguintes: Oferta de teste rápido anti-HIV para todas as pessoas em tratamento de tuberculose; Aconselhamento em relação à prevenção do HIV ofertado às pessoas com tuberculose; Atualização das normas e recomendações aos serviços de saúde para atendimento e acompanhamento dos pacientes com tuberculose; Integração
do atendimento da pessoa coinfectada por TB-HIV nos Serviços de Atenção
Especializada a pessoas com HIV/aids (SAE), estabelecimentos que contam
com equipes multidisciplinares experientes no manejo desses casos; Organização da rede de atenção para facilitar o acesso da população coinfectada aos diagnósticos.
Quem tem tuberculose pode ser atendido em algum serviço específico de saúde para pessoas vivendo com aids? Sim,
no caso das pessoas coinfectadas por TB-HIV. A recomendação do PNCT é
que o atendimento integral dessa população seja realizado nos Serviços
de Atenção Especializada (SAE), locais em que toda a estratégia de
diagnóstico precoce, tratamento e prevenção da tuberculose está
disponível às pessoas que vivem com HIV/aids.
E quem tem aids também deve procurar algum serviço específico de atendimento a quem vive com tuberculose? Geralmente,
não. Os serviços de atenção especializada em HIV vão encaminhar os seus
usuários aos serviços de tuberculose quando, por exemplo, for
necessário realizar algum procedimento de apoio ao diagnóstico, em casos
de interações medicamentosas e efeitos adversos ao uso dos
medicamentos. O encaminhamento às referências de atenção à tuberculose
(que são também serviços especializados) será individualizado,
dependendo da necessidade de cada caso.
Qual é o maior desafio para melhorar a resposta à coinfecção por TB-HIV? Existem
vários desafios para o controle da coinfecção por TB-HIV, especialmente
em decorrência das especificidades e complexidade da coinfecção.
Atualmente, temos dois desafios principais: a ampliação do diagnóstico
oportuno do HIV por meio da testagem rápida em pessoas com tuberculose e
a consolidação do SAE como referência para o acompanhamento da pessoa
coinfectada por TB-HIV. As estratégias de trabalho do PNCT, juntamente
com o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, para o ano de 2013,
objetivam superar esses dois desafios.
Como a sociedade civil pode contribuir para ampliar essa estratégia? A
sociedade civil pode contribuir para o enfrentamento da coinfecção
TB-HIV por meio do desenvolvimento de ações de base comunitária. Ou
seja, iniciativas que visam a sensibilizar as pessoas que vivem com
HIV/aids sobre a importância do diagnóstico precoce e prevenção da
tuberculose. O ativismo deve ter também por objetivo incluir essa
discussão na agenda política do movimento, para fortalecer o engajamento
das lideranças, promover incidência política e dar visibilidade à
questão da coinfecção.
Fonte: Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais
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